A existência de discriminação no mercado de trabalho é um problema que ainda permanece em nossa sociedade. A saber, a inclusão racial é uma das maiores urgências da população negra. Os números do IBGE mostram que, nos últimos anos, o desemprego permaneceu mais alto entre os pretos e pardos do que entre brancos. E ainda: os negros têm mais dificuldade de obter emprego e recebem até 31% menos que brancos. A renda média domiciliar per capita dos pretos ou pardos foi de R$ 934 em 2018, metade do que era recebido pelos brancos. Em 2019, uma pesquisa realizada pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostrou que a diferença salarial entre brancos e negros era de 45%.
Os estudiosos apontam que essa é uma realidade que pode ser explicada pelo racismo estrutural. Nesse sentido, “o racismo é estrutural porque se apresenta como um alicerce em cima do qual se constroem as relações políticas, econômicas e sociais no país. As pessoas e as instituições são moldadas, por vezes de forma inconsciente, para encarar como normal que brancos e negros ocupem lugares diferentes”.
A advogada Flávia Pinto Ribeiro, vice-presidente da Comissão OAB Mulher da seccional Rio de Janeiro, explica: “As pessoas são racistas quando não ficam indignadas diante da notícia do assassinato de uma pessoa negra. Diante da ausência de negros nos governos, nos tribunais e na direção de empresas. Diante de um Estado que oferece transporte de qualidade, saneamento básico e segurança pública aos bairros ricos, mas nada disso às periferias, habitadas majoritariamente por negros”.
De acordo com o filósofo, professor e jurista Silvio Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama, negar o racismo é parte do problema. Isso porque, uma vez que não é reconhecido, é como se não existisse e não exigisse mudança. “O racismo só consegue funcionar e se reproduzir sem embaraço quando é negado, naturalizado, incorporado ao nosso cotidiano como algo normal. A tomada de consciência, portanto, é um ponto de partida fundamental”.
O Estado e o racismo estrutural
Para os estudiosos, o racismo estrutural deve ser combatido com políticas públicas que visem combater as estruturas de desigualdade racial e social no Brasil. “A maior fragilidade sempre foi a participação do Estado brasileiro no combate ao racismo, desde a formulação de políticas públicas para minorar as consequências do racismo até a lei anti-racismo, que apresenta enormes dificuldades de aplicação”, explica Márcia Lima, professora do Departamento de Sociologia da USP e pesquisadora do Cebrap.
Ivanir dos Santos, Doutor em em História pela UFRJ, vai além: “É muito difícil falarmos em avanços quando nos deparamos com casos do pequeno Miguel, vítima de uma negligência da patroa da mãe e da avó. Ou do jovem João Pedro Matos, que morreu após a casa ser fuzilada. Casos como esses, corroboram para que possamos compreender o quão vil é o sistema estrutural do racismo, nos colocando à margem do sistema como a carne mais barata do mercado”.
Como trabalhar a inclusão racial no mercado de trabalho?
Para diminuir a desigualdade e promover a inclusão racial é preciso falar de mudanças de comportamento, estruturas e estratégias. Não há uma fórmula mágica para isso, mas se impõe, acima de tudo, interesse, participação e o uso de meios que façam da admissão de profissionais negros grandes oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento das instituições.
Essas distorções qualitativas representam um enorme desperdício de recursos humanos e um obstáculo considerável ao crescimento verdadeiramente sustentável e inclusivo. Isso só será alcançado mediante a correção das deficiências observadas. Portanto, a chave para o sucesso aqui é pensar em uma estratégia multinível. É preciso melhorar os métodos de recrutamento, reformar os sistemas de educação e abordagens que promovam a integração social no trabalho. Por meio da flexibilidade dos trabalhadores, a diversidade também é favorecida. Sendo assim, podemos dizer que o crescimento inclusivo será baseado em um mercado de trabalho totalmente reformulado. É preciso também defender e ampliar políticas afirmativas como cotas raciais na educação e nos concursos públicos.
Na prática, a igualdade dentro do mercado de trabalho só será possível quando existir representatividade numérica em concordância com o que vemos na sociedade, seja de raça, cor ou gênero. Uma medida a ser tomada em todas as empresas é o trabalho de conscientização dos funcionários contra o racismo. Palestras educativas e parcerias com grupos atuantes na causa exercem um papel fundamental nesse sentido.
Vale lembrar que racismo e injúria racial são crimes no Brasil. Portanto, se for vítima, denuncie na Delegacia de Crimes Raciais ou em qualquer delegacia. Você pode também utilizar o Disque 100 ou o portal Safernet, que analisam e encaminham denúncias de violações de direitos humanos.
Fontes: Portal Terra