O impacto social nos negócios da periferia

22 de abril de 2019

Escrito por: Kazuhiro Kurita

Nos últimos anos, a periferia sofreu uma grande transformação e hoje é uma região de potência, criatividade, colaboração e empreendedorismo social, diz Viviane Naigeborin.

Uma nova geração de empreendedores sociais tem aparecido nas periferias e se firmado como potência de inovação, impacto e superação, como Adélia Rodrigues, sócia da Gastronomia Periférica, e Michelle Fernandes, dona da Boutique de Krioula. Elas fazem parte da rede de acelerados pela Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia (ANIP), criada em 2018 pela produtora A Banca, em parceria com a Artemisia e o Centro de Empreendimentos e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGVcenn).

Adélia Rodrigues e Michelle Fernandes mantêm negócios de impacto social na periferia de São Paulo. Foto: Kazuhiro Kurita

Adélia e Michelle participaram do painel “Negócios de Impacto da Periferia – Criando Pontes” realizado no auditório da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no dia 16 de abril. No encontro, elas falaram sobre as dificuldades e os desafios de manter um negócio de impacto social em regiões praticamente segregadas do Centro da cidade.

Para Adélia, o maior desafio é cruzar a ponte e mostrar que o empreendedorismo periférico é viável. Quando resolveu abrir um negócio próprio, ela estava desempregada. Até ter contato com a Banca, ela não tinha consciência de que seu negócio poderia impactar socialmente o entorno. “Aprendi a transformar a vida das pessoas da periferia através da gastronomia e do desenvolvimento humano e ainda gerar renda para manter o negócio viável”, conta.

Já Michelle diz que a Boutique de Krioula nasceu há seis anos no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, porque não se sentia representada no mercado. “Pensar em empreendimentos na periferia não é algo novo. Ele remete aos tempos dos nossos ancestrais, que tiveram que ir para seus cantos e se virar depois da escravatura, com mulheres fazendo seus quitutes para sobreviver”, lembra, acrescentando que a realidade continua difícil para quem mora na periferia. No entanto, ela diz que o povo da quebrada está tomando consciência de suas potencialidades, mas, a exemplo da Adélia, foi há pouco tempo que descobriu que seu negócio poderia ser um agente transformador no meio onde vive.

Viviane Naigeborin, assessora estratégica da Potencia Ventures e conselheira da Artemisia, acompanhou de perto a criação da ANIP. Para ela, a periferia é muito mais que uma posição geográfica, longe do Centro da cidade. “Hoje, no Brasil, a periferia é uma construção ideológica, uma construção sociológica. Nos últimos anos, ela sofreu uma transformação gigantesca e hoje é uma região de potência, de criatividade, de colaboração e empreendedorismo”, explica.

Na periferia existem problemas de infraestrutura porque o Brasil é um país de desigualdades. “Para ficarmos em um exemplo, a expectativa de vida de um morador da periferia de São Paulo é, em média, 23 anos menor que a de moradores de áreas nobres”, afirma Viviane, citando o Mapa de Desigualdade 2017, da Rede Nossa São Paulo. Ela diz que os dados são conhecidos há tempos e não se consegue mudar a realidade porque se construiu uma sociedade que naturaliza a existência de cidadãos e cidadãs de primeira e segunda categoria. “Essa naturalização da desigualdade é a origem da criação do Negócios de Impacto há quase 20 anos, pois tudo que gira em torno da proposta tem a ver com a mudança desses indicadores”, garante.

Para Viviane, a periferia precisa ser descoberta, ser ouvida e não é para ser invadida por ideias de fora. As soluções têm de envolver lideranças e comunidades locais, para não tirar delas o protagonismo de suas ações.

Ela levanta a necessidade de derrubar muros e construir pontes entre a periferia e as regiões centrais da cidade. Para a assessora, a região periférica não precisa de porta-voz, ela necessita de parcerias. “Os investidores que detêm o poder do dinheiro têm de estar muito atentos para não ocupar o protagonismo e ativismo que não lhes pertence. Um investimento adequado e correto é aquele que constrói parcerias. Para isso, é preciso estar nas comunidades e elas também atravessarem a ponte, de tal forma que, em algum momento, essa interação e integração seja realmente efetiva, para que os negócios periféricos seja um fato. É importante desconstruir o estranhamento de uns virem para cá e outros irem para lá. É esta conexão que vai fortalecer os empreendimentos da periferia. É como diz o samba-enredo da Mangueira, é destes diferentes brasis é que a gente vai poder construir um Brasil de verdade”, finaliza.

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