Dados divulgados pelo IBGE na quinta-feira, dia 16 de maio, mostra que 5,2 milhões de desempregados estão procurando trabalho há mais de um ano.
A taxa de desocupação chegou a 13,4 milhões no primeiro trimestre do ano, segundo a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgada pelo IBGE. É o maior índice desde o trimestre finalizado em maio de 2018. O levantamento mostra que 5,2 milhões de pessoas desempregadas está em busca de uma vaga há mais de um ano e que 3,3 milhões estão paradas há mais de dois anos, um crescimento de quase 10% em comparação ao primeiro trimestre do ano passado.
O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, diz que, pelo fato de 3,3 milhões dos 13,4 milhões de desempregados estarem em busca de emprego há mais de dois anos acarreta uma perda de qualificação, que afasta ainda mais as pessoas do mercado de trabalho porque o conhecimento fica superado e cria-se um círculo vicioso. “A desocupação é expressiva, a qualificação não avança e o que sustenta o mercado é o emprego por conta própria e a informalidade. Isso denuncia um diagnóstico bastante grave”, afirma.
Para o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Renan Pieri, como a crise tem sido longa, homens e mulheres, chefes de família, acabaram perdendo o emprego e sua recolocação é mais complicada. “Eles não aceitam qualquer trabalho, com salários menores, pelo menos no começo. Estudos mostram que essas pessoas têm uma dificuldade maior de transição e, quanto mais tempo paradas, mais perdem suas habilidades e se tornam menos eficientes no trabalho. Quanto maior o tempo de recolocação, elas ficam mais depressivas, perdem a autoconfiança, a rede de contatos profissionais e tendem a ficar mais isoladas. Então, tudo isso somado faz com que a chance delas voltarem a trabalhar fique ainda menor em uma época de desemprego tão alto”, explica o professor.
Subutilização e desalento
A PNAD Contínua revelou, ainda, que a taxa de subutilização do primeiro trimestre foi a maior dos últimos sete anos em 13 dos 27 estados brasileiros, com destaque para Piauí e Maranhão, que registram mais de 40% de trabalhadores que querem trabalhar pelo menos 40 horas semanais e não conseguem. Esse grupo reúne 28,3 milhões de pessoas. “O que chama atenção é o perfil de dispersão generalizada da subutilização, que é recorde em todas as regiões”, explica Azeredo. Ele lembra que, além da taxa, é preciso observar a população subutilizada, que é recorde em 15 unidades da federação. O índice de desalentados no primeiro trimestre foi de 4,4%, mantendo o recorde da série histórica, somando 4,8 milhões de pessoas com 14 anos ou mais.
Segundo o professor da FGV, em uma crise prolongada as pessoas se sujeitam a pegar o que aparece. “Isso cria uma descontinuação da economia, fazendo com que
trabalhos não tradicionais acabem se tornando uma opção. Motorista de aplicativos é um exemplo, pois possibilita aumento de renda de quem está empregado ou passa por uma transição de trabalho. Isso não tem pouca relevância, porque boa parte dos empregos gerados no ano passado veio deste segmento. Este tipo de trabalho acaba aumentando a estatística dos desocupados, mas tem um lado positivo porque, na falta de emprego, essas pessoas não teriam como ter esta renda”, justifica.
Onde está o desemprego?
O maior contingente de desempregados está na faixa etária de 25 a 59 anos (57,2%). Em seguida, vem os jovens de 18 a 24 anos (31,8%). As mulheres seguem como a maioria da população desocupada e fora da força de trabalho. Do total de 13,4 milhões de desempregados, os pardos representaram a maior parcela. Para Azeredo, os homens adultos negros e pardos sofrem mais porque são menos qualificados. “Eles são arrimos de família, eram chão de fábrica, de canteiros de obras ou da agricultura e foram empurrados para a informalidade. A mulher é quem sempre mais sofre nas crises, mas a atual acaba prejudicando principalmente os homens e a população do Nordeste”, destaca Azeredo.