Em regiões nobres da cidade de São Paulo, como a Avenida Paulista, a desigualdade salarial entre homens e mulheres é bem maior que na periferia.
As mulheres são maioria da população, quase metade é arrimo de família, apresentam melhor desempenho na educação, vivem mais e sua renda é aproximadamente 40% menor que a dos homens no País, segundo dados de setembro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). No Município de São Paulo, essa diferença não é tão gritante, mas ainda assim é significativa, revela o estudo da Rede Nossa São Paulo referente a 2017, lançado na quarta-feira, dia 28 de novembro.
Pelo levantamento, a maior diferença está nas áreas mais nobres da cidade, onde as também mulheres são maioria da população e ganham, em média, pouco mais que a metade da remuneração masculina. Em Pinheiros, Itaim Bibi, República, Centro e Saúde, a diferença é um pouco menor. Por outro lado, nas regiões do Jaguara, Ermelino Matarazzo, Cangaíba e Jardim Helena o salário médio feminino é maior que o dos homens, variando de 3% a 15% a mais. No entanto, o Mapa da Desigualdade de São Paulo mostra que nas regiões mais ricas existem mais de seis empregos formais por habitante enquanto nos extremos essa proporção cai para um emprego formal por morador.
Para o gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio, essa desigualdade de gêneros reflete o machismo estrutural que existe na sociedade e os homens, em geral, ganham em média 30% a mais no Brasil. “No entanto, aqui em São Paulo, nos bairros mais ricos, essa distância é ainda maior. Por exemplo, no Bairro da Consolação, os homens ganham 40% mais que as mulheres”, indica.
Com relação aos bairros periféricos, onde a diferença é menor ou as mulheres ganham mais que os homens, Sampaio diz que não há muito a comemorar. “Na verdade, são exceções, porque de 96 distritos em apenas sete as mulheres conseguem suplantar os homens. Agora, em termos de valores absolutos dessa renda, são remunerações muito baixas e isso reflete muito mais uma dinâmica de empregos informais, onde as mulheres têm de conseguir uma renda para a família toda e acesso a um emprego precário. A regra em São Paulo, como no restante do País, é que os homens ganham mais que as mulheres e é impressionante como nas regiões mais centrais essa diferença é muito maior”, explica.
Situação no País
Na segunda-feira, dia 26 de novembro, a ONG Oxfam Brasil divulgou o relatório “País Estagnado: um retrato das desigualdades brasileira 2018” onde registrou que, em 2017, a renda média das mulheres era de R$ 1,789,72 contra R$ 2.578,15 dos homens. Neste ritmo, as mulheres terão equiparação salarial somente em 2047, porque a diferença aumentou nos últimos dois anos. Em 2016, mulheres ganhavam 72% dos salários dos homens e em 2017 essa proporção caiu para 70%.
Uma das justificativas pode estar no tempo que a mulher tem disponível para o mercado formal de trabalho. O PNUD mostra que no Brasil a divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres ainda é muito pequena. Segundo o relatório, elas gastam mais de 1/10 do tempo para realizar atividades em casa, sem levar em conta os cuidados com os filhos, idosos e familiares doentes.
Vagas na periferia
Com relação à menor oferta de empregos na periferia, o gestor lembra que as duas últimas administrações municipais tentaram atrair empresas para locais mais distantes do centro da cidade por meio de isenção ou abatimento do IPTU. “A estratégia que as gestões públicas vêm adotando para descentralizar as empresas é trabalhar com a dinâmica de isenção fiscal. Infelizmente, ela não tem surtido efeito”, afirma.
Segundo Sampaio, a Prefeitura teria que pensar em outras estratégias para estimular a criação de empregos formais nas regiões periféricas. “Penso que deveria ser um conjunto de políticas públicas. Fortalecer a educação, capacitar e levar ensino superior seria uma das medidas, mas, somado a isso, precisamos lembrar que não necessariamente é preciso estruturar um grande polo empregatício nessas regiões para se ter emprego formal. Pode se trabalhar com dinâmicas de economia solidária e/ou circular e também com o empreendedorismo social. Estimular pequenas empresas, startups e promover arranjos locais de desenvolvimento em todas as regiões da cidade talvez fosse uma estratégia mais efetiva que apenas dar isenção fiscal”, sugere.