Participação feminina. Diversidade. Paridade de gênero. Empoderamento feminino. De algum tempo para cá, algumas palavras passaram a transitar de forma mais assídua no mundo corporativo, muito por conta de iniciativas que buscam um ambiente empresarial mais igualitário.
Nada mais justo se analisarmos a realidade do mercado de trabalho brasileiro. No momento em que se aproxima mais um Dia Internacional da Mulher, os números ainda gritam por mudanças. Elas são responsáveis por 52,7% da força de trabalho, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto ainda sofrem discriminação salarial (mesmo possuindo as mesmas competências do homem, tendem a receber um menor salário), além da sub-representação em funções de gestão, mesmo que apresentem as mesmas habilidades e experiências dos colaboradores masculinos.
Participação feminina – Mulheres negras
E há um público que sofre ainda mais com todo este cenário: as mulheres negras. De acordo com o Dieese, enquanto a taxa de desemprego geral ficou em 9,3% no segundo trimestre deste ano, entre as mulheres negras o indicador alcança 13,9%. Da mesma forma, o rendimento médio real mensal é menor entre as mulheres negras (R$ 1.715,00) e maior entre os homens brancos (R$ 3.708,00).
Inconformada com esses números, Érica Abreu, diretora de serviços de uma multinacional japonesa, idealizou o projeto Tech para Mulheres (TPM), no intuito de dar oportunidades para este público ingressar na área de Tecnologia da Informação, ainda preponderantemente masculina.
Formas de aumentar a participação feminina
Para mudar esse cenário, entretanto, Érica entende a necessidade de haver uma mudança de posicionamento da própria mulher. “Muitas assumem a síndrome da impostora e se sentem incapazes de atuar neste segmento. Precisamos angariar forças e nos unir para enfrentar esse desafio”, diz ela, que se identifica como mulher negra e periférica.
Érica reforça a importância de um ambiente corporativo diverso. Inclusive, estudo da consultoria McKinsey mostra que as organizações mais diversas têm 35% mais chances de alcançar rendimentos acima da média do setor. Importante ainda, segundo ela, são as iniciativas como o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), que busca estimular empresas a promover políticas que resultem em uma maior ocupação de cargos de liderança por parte das mulheres. “Hoje este índice gira em torno de 20% a 25%. O Pacto prevê que alcance 30% até 2025 e 50% até 2030”, diz.
Livro e referências
E o TPM vai virar livro, trazendo um conjunto de informações relevantes, a partir da imersão com várias executivas bem-posicionadas no mercado de trabalho, que servirão como referências para aquelas que querem ingressar no setor de TI. O lançamento está previsto para o dia 11 de maio, mais informações no site.
Érica sabe que é essencial buscar referências para estabelecer uma jornada de carreira exitosa. “Quando visualizamos uma característica que se assemelha à nossa, ganhamos força, passamos a sonhar”.
E sua trajetória diz muito sobre isso, desde que iniciou como assistente administrativa, posição conquistada a partir de uma vaga publicada no jornal O Amarelinho. “Nessa empresa, pude automatizar a parte de emissão de NF, colocando os conhecimentos de minha formação de Processamento de Dados em prática”, lembra.
A partir daí, ela foi à procura das competências necessárias para se destacar no competitivo mundo do trabalho. Passou uma temporada no Canadá para aprimorar o inglês, retornou para o Brasil na área de Tecnologia, buscou entender processos de diversas áreas, a visão do cliente, enfim, se preparou para assumir a posição de liderança e inovação que ocupa hoje. “É necessário muita dedicação, luta, foco, consistência e engajamento para sobressair e alcançar lugar de destaque, principalmente para mulheres e negras”, finaliza.