O jornal O Amarelinho e a organização social Cruzando Histórias firmaram uma parceria, por meio da qual abrem espaço para mulheres contarem, por elas mesmas, as suas trajetórias relacionadas ao mundo do trabalho e a coragem para recomeçar.
A história abaixo é de Regiane Queila de Medeiros Azevedo, 47, São Paulo, SP.
“Existem momentos na vida que parece que entramos num terremoto, onde tudo chacoalha e é preciso sair do lugar para, então, se reajustar melhor, não é? É assim que me enxergo nos últimos tempos. Faz um ano e meio que estou desempregada e cinco meses que terminei um casamento de 19 anos. Foram mudanças difíceis, mas necessárias. Também encarei esse tempo como crescimento e aprendizado e agradeço a sorte de ter duas filhas muito acolhedoras, que me oferecem teto e apoio.
Passados alguns meses de reflexão, sinto que estou pronta para recomeçar. Sei o que eu quero para mim, tanto pessoal quanto profissionalmente, e me sinto forte nesse novo capítulo. Encontrar um trabalho na minha área, como analista de recursos humanos, é um dos pilares mais importantes para a minha reestruturação. Para mim, o trabalho é o lugar onde me sinto útil.
Lembro-me muito bem da alegria que senti ao conquistar o meu primeiro emprego, aos 14 anos. Eu enchia o saco do meu pai, dizendo que queria um serviço para ter o meu próprio dinheirinho. Ele conseguiu para mim uma vaga de atendimento em uma papelaria e, desde então, nunca mais parei de trabalhar. Descobri que gosto muito de lidar com a parte administrativa e burocrática de uma empresa, além de atender o funcionário.
Minhas principais experiências se concentram nos cargos de auxiliar administrativo e analista de recursos humanos. Passei 20 anos trabalhando para empresas de um mesmo grupo e pude construir uma trajetória da qual tenho muito orgulho. Iniciei como caixa, depois migrei para o departamento financeiro, até que surgiu uma vaga no setor de recursos humanos. Encontrei-me nessa nova área! Tanto que tomei coragem e comecei uma faculdade, sendo uma das alunas mais velhas da turma, a fim de estudar e me especializar em RH. Um ponto bonito dessa experiência foi ter o incentivo e a companhia de uma das minhas filhas, como veterana. Então me formei em 2017, aos 41 anos.
Com o tempo, descobri que meu negócio é organizar e descomplicar burocracias, traduzindo tudo isso de maneira fácil, assertiva e humanizada para o funcionário. Adoro pegar uma folha de pagamento, por exemplo, conferir e explicar todos os encargos. Sou aquela que dá atenção para cada detalhe, sabe? E posso garantir que tenho toda a paciência necessária para explicar o que for preciso, seja um holerite, desligamento ou qualquer questão que envolva recursos humanos. Tenho sempre em vista que há uma pessoa na minha frente, que precisa de escuta, empatia e cuidados. E, do mesmo jeito que gosto de cuidar do funcionário, levo em consideração os interesses e objetivos da empresa. Entendo que o meu papel é conectar essas duas pontas.
Fico feliz com o respeito e confiança que conquistei nos empregos pelos quais eu passei. Os funcionários me procuravam para desabafar e os chefes me confiavam senhas e códigos importantes do negócio. Conquistar e honrar a confiança das pessoas é muito valioso para mim. Percebo que isso é recíproco quando as pessoas me ligam em situações de estresse, pedindo conselhos. Elas valorizam a minha calma e praticidade, e eu gosto de ponderar e apresentar os prós e contras de cada situação.
Acredito que o departamento de recursos humanos é o coração de uma empresa e eu, como funcionária do setor, tenho o papel de tratar o funcionário da maneira que eu gostaria de ser tratada. O bem-estar de cada funcionário, não importa o cargo, vai interferir e refletir no funcionamento de uma empresa inteira. Isso eu aprendi com a experiência!
Nesse momento de recolocação, diante de muitas negativas, tento ser gentil comigo, assim como gosto de ser com as outras pessoas. Esforço-me para me manter motivada, controlando as minhas expectativas e ansiedade. O que me faz bem é estar na ativa. Então, além de procurar emprego, faço trabalhos pontuais em eventos, como atendimento em bufês, e inventários noturnos para uma empresa.
Quando idealizo uma boa vaga de trabalho fixo, imagino-me ocupando o cargo de auxiliar e/ou analista de departamento pessoal e de recursos humanos. Busco um emprego que ofereça estabilidade, convênio de saúde e condições humanizadas no trato com as pessoas. Sou aquela que veste a camisa da empresa e acredita no trabalho como fonte de dignidade!
Tudo o que eu mais quero é retomar o controle da minha vida, alugar uma casa só para mim, e seguir como um bom exemplo para minhas filhas e meu neto. Tenho orgulho de tudo que conquistei até aqui, e de ter tido a coragem de recomeçar. Meu coração diz que estou no caminho certo e, por isso, eu reforço a minha mensagem para recrutadores de São Paulo: estou pronta!”