As mulheres estão invadindo cada vez mais espaços que antes eram ocupados somente pelos homens, como a entregadora de gás Fernanda Ribeiro Alves.
Quando terminou o ensino médio, a jovem Fernanda Ribeiro Alves, de 23 anos, estava meio perdida profissionalmente e não sabia que carreira seguir. Foi quando seus pais resolveram abrir uma distribuidora de gás de cozinha em São Mateus, bairro periférico do município de São Paulo.
Enquanto não resolvia o que fazer, e por necessidade da família, Fernanda foi trabalhar na empresa aos 19 anos. Começou com os serviços administrativos, mas logo teve que se virar nos trinta, passando a ajudar o irmão na entrega dos botijões, coisa que faz até hoje.
No começo, ela estranhou o trabalho. “Eu tinha medo de derrubar ou sair rolando com os botijões nas escadarias das casas onde ia entregar porque eles são pesados. Depois descobri que não é uma questão de força, mas de costume, embora já tenha deixado um cair no meu pé, que ficou roxo e doendo por um tempo”, diverte-se.
Fernanda diz que muita gente ainda estranha que ela saia carregando os botijões e alguns homens já vão tirando de sua mão para ajudá-la. “Prefiro achar que é uma gentileza e não machismo”, afirma ela, que nunca parou para pensar que ainda é considerado um serviço de homem. “No começo, eu ficava chateada, porque muitos homens acham que aguentam mais peso que a gente. Nunca dei muita atenção, sempre disfarcei e segui com o trabalho. Por sorte, agora parece que o estranhamento diminuiu bastante”, comemora.
Hoje, Fernanda divide seu tempo entre entregas, a administração do negócio e ajuda nos serviços de casa e ainda sonha em fazer um curso de graduação, na área de Química. “Fiz dois anos de cursinho e prestei vestibular para Engenharia Química em escolas públicas, mas não passei. Estou pensando em tentar em alguma faculdade particular”, diz ela, que se formou atriz no Teatro Escola Macunaíma e agora quer estudar na Escola de Teatro Wolf Maya. “Meu sonho é poder conciliar a profissão de atriz e de engenheira química”, projeta ela.
Motorista de ônibus
Quem também ocupa uma função predominantemente masculina é Joice dos Santos Costa. Ela é uma das 19 mulheres em um universo de aproximadamente 600 motoristas da Viação Gato Preto. Antes de começar na profissão, que exerce há 12 anos, ela trabalhava como atendente em uma quitanda, quando um casal cliente perguntou se não queria fazer um teste para trabalhar como motorista de lotação em um ônibus que tinha acabado de comprar.
Como o salário era o dobro do que ganhava na quitanda, Joice resolveu aceitar o desafio. Na época tinha 24 anos e já dirigia carro de passeio. Voltou à autoescola para tirar a habilitação D, que dá direito a conduzir profissionalmente veículos de transporte de cargas e pessoas. Conseguiu a carteira e foi dirigir a lotação.
No início, ela e os passageiros também estranhavam. “Eu tinha muito medo e as pessoas também. Como motorista sente tudo dentro do ônibus, eu ouvia alguns comentários como ‘será que esse carro vai chegar ao destino?’, mas procurava não ligar muito. Havia, como existe até hoje, muito machismo, principalmente por parte das mulheres”, lamenta.
Depois de um tempo na lotação, Joice resolveu que era hora de voos mais altos. “Comecei a mandar currículos e uma viação me chamou. Fiz o teste e passei. Tive muita força do instrutor, que me deu dicas preciosas que uso até hoje”, ”confessa. Ela ficou na empresa até ser contratada pela Gato Preto há quatro anos.
Joice diz que não sofre discriminação dos colegas homens que a respeitam muito, mas reclama de alguns passageiros, de quem sofre assédios constantes. “Até mudo a aliança para mão direita, para eles verem que sou comprometida”, diz ela, que é casada. Porém, esses contratempos não a incomodam de fato. “Acho que fiz a escolha profissional certa, pois gosto muito do que faço, embora ser motorista de ônibus exija uma boa dose de paciência e atenção, porque envolve a segurança e a vida de muitas pessoas”, afirma.