O jornal O Amarelinho e a organização social Cruzando Histórias firmaram uma parceria, por meio da qual abrem espaço para mulheres contarem, por elas mesmas, as suas trajetórias relacionadas ao mundo do trabalho.
A história a seguir é de Aline de Carvalho, 35 anos, São Paulo, SP.
“Dizem que sorte é quando a oportunidade chega e você está preparada. Se é assim, eu me preparo todos os dias para agarrá-la, só me falta a oportunidade! Esse é o resumo da minha história de vida, estou sempre me preparando e correndo atrás do que desejo construir.
E, olha, não tive um caminho fácil. Aliás, pelo contrário! Sou fruto de uma violência sofrida pela minha mãe. Por conta disso, fui criada pela minha avó, encarando uma realidade dura desde pequena. Aos 12 anos, juntei-me com uma amiga e fui trabalhar de vendedora ambulante na rua 25 de Março, comércio popular de São Paulo. A verdade é que nunca tive espaço para ser uma criança e adolescente como outras da minha idade, pois eu precisava trabalhar e me virar. E nunca deixei de estudar.
Primeiros passos para agarrar oportunidades
Já mais moça, consegui um emprego como auxiliar em um escritório. Nessa época, terminei meus estudos e fiz um curso técnico de Auxiliar de Enfermagem. Eu, que sempre valorizei muito o cuidar de pessoas, construí minha carreira dando assistência a pacientes de alta complexidade em suas casas. Atender crianças me trouxe um carinho e uma paixão ainda mais especial. A relação com elas despertou em mim uma vontade muito forte de cursar Pedagogia. Em 2014, consegui uma bolsa e me matriculei na faculdade.
Fiz um estágio rápido como professora de educação infantil e, apesar do pouco tempo de prática, foi o trabalho mais gratificante que tive! Eu me realizei como pessoa e profissional por contribuir com o desenvolvimento dos pequenos. Isso é algo que me motiva muito! Logo depois, tive um trabalho como agente de organização escolar em uma escola da periferia e encarei os desafios sociais. Ali, era um ambiente muito complicado, violento, o que me ensinou a compreender e ajudar o aluno e sua família, para além dos muros da escola. Aprendi muito nessa experiência!
Infelizmente, em paralelo, minha filha adotiva, a mais velha, sofreu um acidente e passou um ano numa cadeira de rodas. Então tive que sair do meu trabalho para cuidar bem dela.
Foi um período muito difícil porque interrompi minha carreira como professora. Então me virei fazendo bicos de depiladora, além de um ou outro plantão como enfermeira. Pouco tempo depois, em 2019, engravidei (filho caçula), veio a pandemia e fiquei em casa dedicada à maternidade.
Pensando na situação atual
Esse é o momento em que me encontro: procuro emprego como professora infantil, acreditando na chance de retornar ao mercado de trabalho. Tem sido uma luta diária. Só esse ano, por exemplo, enviei mais de 80 currículos e fui chamada para apenas três entrevistas. Outro ponto muito difícil é que as escolas exigem uma experiência registrada em carteira, que eu não tenho.
Está difícil, mas não posso desistir. Continuo apostando nos meus estudos e acredito que vou construir a carreira que tanto desejo. Estou cursando uma pós-graduação em Psicopedagogia e um MBA em Gestão Escolar. Sonho com o dia em que me tornarei uma diretora de escola, unindo a paixão pelo educar e a gestão.
Eu só gostaria que os recrutadores me dessem uma chance de reingressar no mercado de trabalho! Queria muito que eles levassem em consideração a minha experiência de vida e não apenas a registrada em carteira. As pessoas precisam de uma chance para agarrar as oportunidades para mostrar aquilo que elas fazem bem!
E posso garantir, sem medo: tenho muito para oferecer como professora de educação infantil. Todos os meus desafios pessoais e profissionais me ensinaram muito! São anos de experiência como enfermeira, mãe de três filhos e estudante de Pedagogia. Sinto-me pronta para agarrar as oportunidades!”