A pandemia do novo coronavírus teve como uma de suas consequências o distanciamento social. Desse modo, surgiu um debate sobre flexibilização no trabalho e, na esteira dele, empresas e trabalhadores se viram obrigados a estabelecer, quando possível, novas configurações no ambiente de trabalho, com destaque para a adoção do home office, que passou a fazer parte da rotina de mais de oito milhões de brasileiros.
Quase dois anos depois, a verdade é que um número considerável de profissionais gostou da experiência e quer um trabalho mais flexível em relação à presença no ambiente organizacional. É o que indica pesquisa do Instituto Ipsos, realizada com 12.445 entrevistados de 29 países, sendo 1.000 brasileiros.
Flexibilização do trabalho de maneira concreta
O levantamento mostra que 31% dos entrevistados preferem trabalhar mais ou completamente em regime de home office. Outros 9% querem trabalhar de casa o mesmo tanto que costumavam fazer antes da crise sanitária. No entanto, o percentual de pessoas que desejam trabalhar fora de casa é de 33%.
O equilíbrio desses números não esconde a necessidade de se rever o modelo tradicional de trabalho no Brasil. Nesse sentido, segundo Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil, para quem as empresas terão que pensar em um sistema que respeite a peculiaridade individual de cada um de seus colaboradores.
A ideia de um trabalho híbrido (parte presencial, parte remoto) na flexibilização do trabalho parece ganhar corpo no meio corporativo. É o que pensa Auta Luiza Gomes, gerente administrativa e financeira da RS Prestadora de Serviços Ltda. “No pós-pandemia, acho que poderíamos pensar em três dias por semana de trabalho em casa e dois na empresa”, diz ela.
Equilíbrio na flexibilização
Este equilíbrio entre as modalidades tem suas justificativas. Para Auta, os ganhos para os colaboradores são claros. “Eles deixam de perder horas no trânsito e, consequentemente, têm mais tempo para estar com a família”, afirma.
Entretanto, há algumas características do trabalho presencial que devem ser preservadas, o que reforça o modelo híbrido como ideal. “Percebo que cinco dias em casa também podem resultar em prejuízos emocionais ao longo do tempo, uma vez que o relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho é fundamental”, diz a gerente.
A opinião de Auta reflete uma percepção da própria pesquisa, a de que empresas, apesar de admitirem corte de gastos com o trabalho remoto, consideram alguns prejuízos se o trabalhador não estiver presencialmente, principalmente relacionados ao engajamento. Por isso, Calliari destaca que muitas delas, que declararam no início da pandemia que nunca mais retornaram ao escritório, estão revendo sua posição.