Estudo mostra que o sexo feminino é o mais afetado pelo desemprego e pela idade, fazendo com que as mulheres acima de 50 anos encontrem no empreendedorismo uma boa alternativa.
Os economistas da Facamp (Faculdades de Campinas) fizeram um levantamento sobre os microdados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE, do primeiro trimestre e chegaram à conclusão de que aumentou a precarização das mulheres trabalhadoras, que são maioria da força de trabalho subutilizada. Apesar da taxa de desocupação entre o sexo feminino ter recuado 0,1%, uma observação aprofundada mostra o crescimento da subocupação e da informalização do trabalho delas.
Segundo Daniela Salomão Gorayeb, professora da instituição e doutora em economia, a taxa de subocupação das mulheres é 8,7% maior que as dos homens. “Embora o índice de desocupação tenha diminuído, a taxa de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e a de mulheres desalentadas aumentou”, afirma.
Em categorias afastadas ou mais precárias do mercado de trabalho, as mulheres representam a maioria, principalmente nos setores que demonstram a subutilização da força de trabalho. No total, que alcançou 28,3 milhões de pessoas no primeiro trimestre, as mulheres ocupam a maior parte (54,5%).
A economista lembra, ainda, que as trabalhadoras continuam com rendimentos menores em relação aos homens. O rendimento médio para as mulheres foi de R$ 2.142,20 no primeiro trimestre enquanto, para os homens, foi de R$ 2.644,60. As mulheres recebem, em média, 81% das remunerações dos homens. “A manutenção dessa diferença está relacionada à maior participação das mulheres em posições mais precárias de emprego e de ocupação”, constata.
Diante deste quadro, cada vez mais as mulheres têm buscado no empreendedorismo uma alternativa. A fundadora da Rede Mulher Empreendedora, Ana Lúcia Fontes, revela que nos eventos da entidade tem aumentado o número de mulheres acima de
50 que buscam empreender. “Hoje, quase metade dos micros e pequenos negócios são liderados por elas”, afirma.
Ana Lúcia explica que, diferentemente das mulheres que começam a empreender depois da maternidade para ter mais tempo com os filhos, as da faixa dos 50 anos buscam uma forma de se manter na ativa e fazer algo com o propósito que acreditam. “Elas não têm mais filhos pequenos para cuidar, não querem mais o modelo tradicional de emprego ou ter de lidar com situações adversas dentro das empresas”, diz.
Para Ana Lúcia, a principal motivação não é dinheiro. Elas estão no auge da capacidade profissional, têm experiência de vida e resiliência. “Sabem lidar melhor com frustrações, possuem mais capacidade de perder, cair, levantar e superar dificuldades. Isto conta muito, porque empreender tem muitos altos e baixos e é preciso saber lidar com isso”, conclui.
Este é o exemplo da empresária Andrea Rizzatti, 53 anos. Ela atuou durante 35 anos como técnica em segurança do trabalho, mas perdeu o emprego aos 50 anos. Acabou se aposentando e não conseguiu mais se recolocar no mercado. Por conta disso, há dois anos, abriu uma MEI (Microempreendedor Individual) e começou a prestar serviço para uma empresa que faz entregas. “Nunca tinha trabalhado nesta área de logística, mas estou gostando muito. Trabalho sozinha, carrego o carro de manhã, faço as entregas e, no fim da tarde, já estou de volta. Essa renda complementa bem minha aposentadoria. Estou muito satisfeita”, afirma ela.