A taxa de desemprego diminuiu, mas aumentou o número de trabalhadores sem registro em carteira, como é o caso de Edson Martins e Paulo Miranda, que fazem bicos de segurança para sobreviver à crise.
Depois de cinco anos, a taxa de desemprego total na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) registrou uma pequena queda, passando de 14,8% para 13,7%, segundo a PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego divulgada pelo Dieese – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos na terça-feira, 29 de janeiro. O conjunto de desempregados em 2108 foi estimado em 1.837.000 trabalhadores, com redução de 165 mil em comparação ao ano anterior.
A retração ocorreu em todas as sub-regiões da Grande São Paulo e para todos os segmentos da população, apesar do aumento do tempo de procura de trabalho, passando de 45 para 48 semanas. Entre os desempregados, 36% não tinham completado o nível médio e 52,3% estavam procurando trabalho há mais de seis meses.
Em 2018, o total de ocupados foi estimado em 9.229.000 de pessoas, 111.000 a mais que em 2017. Por setor de atividade, o estudo destaca os resultados positivos dos Serviços Domésticos, Transporte, Armazenagem e Correio e da Indústria de Transformação. Por outro lado, os segmentos de Administração Pública, Defesa e Seguridades Social, Educação, Saúde Humana e Serviços Sociais tiveram desempenhos negativos.
Para o economista do Dieese, Cesar Andaku, este resultado é consequência de dois movimentos. O primeiro é o aumento do trabalho informal desde o início da crise, no final de 2014, com a perda de postos com carteira assinada. O segundo é a saída de trabalhadores do mercado, com jovens desistindo de procurar emprego para se dedicar ao estudo e algumas pessoas passando a cuidar da casa para que outros membros da família possam trabalhar. “Esses dois movimentos acabam mascarando a taxa de desemprego”, alerta.
Andaku lembra que, ao longo da história, o grande número de desempregados acaba pressionando quem está empregado e isso provoca um efeito indireto no salário, que acaba caindo. “Isto pode afetar a contribuição previdenciária no futuro, além de provocar uma alta rotatividade, pois os custos de demissão e contratação são relativamente baratos por conta das baixas remunerações”, constata.
O economista diz que a crise atingiu todos os setores, mas a Indústria e a Construção Civil foram as mais afetadas. “O Setor Industrial contribuiu para uma pequena melhora no segundo semestre, com o efeito da sazonalidade e a contratação de temporários com carteira assinada”, afirma. Ele, no entanto, lembra que o mercado de trabalho reage com atraso à recuperação econômica.
PNAD
O índice de desemprego foi de 11,6% no trimestre encerrado em dezembro, atingindo 12,2 milhões de trabalhadores no País, segundo dados da PNAD divulgados na quinta-feira, 31 de janeiro, pelo IBGE. Em 2018, a taxa média de desocupação ficou em 12,3% frente a 12,7% em 2017 devido ao aumento de trabalho informal e por conta própria. “Esses números refletem uma tendência que vínhamos observando, do aumento da informalidade se opondo à queda na desocupação”, explica o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
Quem está sentindo na pele o aumento da informalidade são os seguranças Edson Martins e Paulo Miranda, que ficaram em uma fila de aproximadamente mil candidatos para 80 vagas em uma empresa em São Paulo. Chegaram às 5h e enfrentaram um sol escaldante até serem chamados para preencher a ficha.
Martins está desempregado há um ano e três meses. Neste período, enviou mais de 200 currículos, fez vários cursos na área e nunca foi chamado para uma entrevista. “O jeito é ir vivendo de bicos para, pelo menos, pagar as contas”, diz ele, que sonha ter de volta um emprego com carteira assinada. Esta também é a esperança de Miranda, que há um ano procura um trabalho formal. “O mercado está cada vez mais exigente, mas como se capacitar se os bicos são de vez em quando? Além disso, tem empresa que desconta até o lanche da gente”, lamenta.