Superação. Esta palavra define bem a trajetória de vida de Felipe Borges, 26 anos. Morador do Jardim Guarani, Vila Brasilândia, ele começou a trabalhar bem cedo, desde os 14. Foi auxiliar de esportes, atendente de perfumaria, controlador de acesso.
Contudo uma coisa o incomodava. O salário não era suficiente para adquirir carro, moto, roupas e tênis de grife. Dessa maneira, foi aí que sua história começou a tomar outro rumo. Quando tinha 17 anos, se uniu a pessoas que tinham o mesmo pensamento e o caminho mais fácil que achou para alcançar esses bens materiais foi o crime.
Foram três anos cometendo delitos. A vida parecia perfeita, contudo, em 2015, ao assaltar uma residência, ele foi pego e condenado a 6 anos e sete meses de reclusão. O primeiro ano, foi o mais difícil. “É quando você conhece sequestrador, traficante, estelionatário… e recebe convites para ter uma vida fácil”, recorda.
Aos poucos, no entanto, o período em que esteve na prisão foi servindo como reflexão para Felipe Borges. Na sua estada em penitenciárias, começou a dar valor à família. “É angustiante estar na prisão, principalmente quando estamos em datas comemorativas e seus familiares não estão presentes.”
De volta para casa
No entanto, por bom comportamento, o jovem ficou preso por 2 anos e sete meses e ganhou o direito de cumprir o restante da pena em regime aberto. E decidiu que teria uma nova vida. Uma das alternativas foi investir, ao lado do pai, em uma pizzaria. Era agosto de 2019. Tudo caminhava bem, até que veio a pandemia. Em vez de lucro, comércio fechado e dívidas para pagar.
Portanto, chegou o momento de buscar a superação. Ele percebeu que precisava correr atrás de um emprego desesperadamente e conseguiu, em abril de 2020, um na área de telemarketing. Em seis meses, se livrou das dívidas. No entanto, era muito trabalho e pouco dinheiro e foi tentar a sorte em outros segmentos, como portaria e vendas. Foi aí que percebeu o preconceito contra quem passou pela prisão, mesmo tendo cumprido a pena. “Passava nas entrevistas, mas era dispensado antes da contratação”, diz.
Ressocialização como parte da superação
Essas recusas o incomodaram, mas não o paralisaram. Continuou sua jornada, até que conheceu o Programa Recomeçar, da ONG Gerando Falcões, que promove ações para ressocialização de detentos e conta com apoio do jornal O Amarelinho.
A partir daí, ele tem visto a sua vida ser transformada. Além da capacitação para o mercado de trabalho, ganhou uma bolsa integral para a faculdade de Educação Física, que havia interrompido por causa da prisão. Nesse sentido, devido às suas experiências profissionais, foi convidado para ser professor do Centro Paula Souza, ministrando cursos de Almoxarifado e Caixa, no CIC Oeste, no Jaraguá. Desse modo, ele já calcula os próximos passos. Amante da culinária, quer inaugurar, em breve, o @coxinhas_ do_borges e se formar em Educação Física, para ser personal trainer e cuidar da autoestima das pessoas. “Hoje, invisto no meu potencial e o que vivi na prisão são águas passadas”, encerra.