RH tem como foco os colaboradores, e o marketing precisa atrair e reter clientes.
Há quem diga que recursos humanos não têm nada a ver com marketing. Por outro lado, existem profissionais que acreditam que as duas áreas têm muito em comum. Discordância à parte, todos são unânimes em afirmar que os dois departamentos devem, cada vez mais, trabalhar em conjunto para o bem da empresa. Assim, as reuniões estratégicas de marketing precisam contar com a presença da equipe de RH e as de definição de treinamento dos funcionários exigem representantes do marketing.
Quem defende a tese de que as duas áreas não têm nada em comum é o professor Marcelo Chiavone Pontes, líder da área de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Para ele, tais áreas são interdependentes, mas podem e devem se relacionar, pois se engana quem acha que o marketing pode fazer a empresa andar por si só.
Embora não compartilhe da premissa de Pontes – para ela, RH e marketing têm tudo a ver -, a coach Mariana Cottini também defende uma maior ação conjunta das duas áreas. “O RH tem como foco os colaboradores, e o marketing precisa atrair e reter clientes, ou seja, ambos desenvolvem um trabalho voltado ao ser humano”.
Para Mariana, cada vez mais é preciso que toda a corporação consiga entender o cliente, que se tornou uma figura muito importante em virtude da concorrência. “Como o RH tem contato com pessoas e cuida delas dentro da empresa, ele tem de estar cada vez mais ligado ao conhecimento de tudo que o marketing sabe e tem de informação. Quanto mais os colaboradores tiverem foco no cliente, melhor entenderão o negócio da empresa e poderão tornar o produto ou serviço mais bem-acabado”.
Com isso, o RH vem adquirindo uma função mais de gestão estratégica de pessoas e da companhia. Então, sua missão é fazer com que os colaboradores passem a aderir às estratégias da empresa. Segundo ela, o RH veio de uma Diretoria muito mais operacional que estratégica, mas já começou a participar de reuniões de estratégia e passou a ser peça-chave para ajudar e contribuir de forma mais eficaz. Deixou de fazer apenas recrutamento e seleção e passou olhar mais para a estratégia e de como atingir metas.
Mudança de foco
Para Cottini, o RH está mudando, entrando nas discussões, sendo ouvido e, portanto, está em outro patamar, muito mais forte. “Todo mundo percebeu que gente é mais importante que sistemas e processos. Se o funcionário não estiver motivado, não respirar os propósitos da empresa, se não entender a missão, compartilhar os valores, não vai se doar e entregar o maior potencial que tem, e a empresa, consequentemente, não terá o que precisa e almeja”.
Para isso, o endomarketing se torna fundamental, principalmente em grandes corporações. Ele serve para que a empresa fale com seus colaboradores internos sobre a imagem que quer transmitir ao mercado. Afinal, os funcionários são os primeiros consumidores a serem atingidos por uma campanha ou qualquer ação que a empresa faça no mercado, seja um posicionamento da marca ou alinhamento de produtos. Então, neste aspecto é importante que as duas áreas trabalhem em conjunto para engajar os funcionários. “É claro que para se atingir este objetivo é preciso que haja uma recompensa por meritocracia, não só financeira, mas outros componentes também devem ser considerados”, afirma a coach.
Vários públicos
Pontes concorda que o departamento de marketing não pode trabalhar só para o consumidor final. Deve atender a vários públicos, desde o fornecedor, ao distribuidor e a imprensa. Por isso, ele acredita que deva haver uma relação de troca com o RH. “O maior desafio do RH é a atração e a retenção de talentos. O desafio do marketing é a retenção de clientes. E isso só é possível com o trabalho conjunto dessas duas áreas”, acredita.
Outro trabalho do marketing é fazer com que o nome da empresa seja conhecido pelo público em geral. “A empresa tem que se mostrar, estar na mídia como uma corporação séria e de destaque em sua área de atuação. Imagine constar da lista das cem melhores para se trabalhar. Isso faz com que os melhores profissionais se interessem em entrar nela”.
O professor cita como exemplo grandes empresas que necessitam de profissionais formados em universidades. “Elas não devem apenas participar de feiras e eventos, montando estandes. Precisam atuar dentro das melhores universidades e dar visibilidade para sua marca, tudo dentro da ética”.
Para ele, a filosofia de apenas vender produtos está mudando. É preciso dar algo mais para o cliente. Por isso, está se investindo no capital humano para que todos trabalhem em equipe. “A personificação dentro das empresas está acabando. Veja o Steve Jobs. Todos se perguntavam o que seria da Apple sem ele. Pelo menos até agora, ela está se desenvolvendo bem, o que significa que havia uma equipe por trás dele. A aproximação do RH com o marketing é fundamental, pois implica em ganha-ganha para a empresa como um todo”, finaliza.