Para especialista, há pouco conhecimento das empresas sobre as vantagens na contratação dessa mão de obra.
Atualmente, não existem dados oficiais sobre o número das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil, o que deve ocorrer a partir do próximo censo do IBGE, em 2020. Por outro lado, existem (e muitos) obstáculos para a abertura de oportunidades de emprego para este público.
Para a psicóloga e analista de comportamento aplicado ao autismo do Grupo Conduzir, Julia Sargi, a quantificação de pessoas com o transtorno será importante para a definição de políticas mais específicas, incluindo s voltadas para a inclusão profissional “Hoje, há um grande desconhecimento a respeito do tema.”
Pela lei 13.861/2019, o autismo é considerado uma deficiência, mas a especialista ressalta que se trata de um transtorno do neurodesenvolvimento. Quando se fala na inserção no mercado de trabalho, é preciso entender as características e habilidades das pessoas que têm esse transtorno, para que eles se apresentem realmente produtivos no ambiente corporativo. Neles, destacam-se, por exemplo, a capacidade de concentração e de reconhecer padrões e seguir regras, boa memória visual e de longo prazo e interesse por tarefas metódicas, sendo mais comum encontrá-los em áreas, como Matemática, Tecnologia, Música e Artes. “As empresas precisam apenas prover espaços adequados para o desenvolvimento das tarefas”, diz Julia.
Esperança e receio
Exemplo é Matheus Cuelbas de Moura, 19 anos. Diagnosticado com a Síndrome de Asperger (condição neurobiológica enquadrada dentro do TEA), o jovem tem focado no desenvolvimento de habilidades, com o objetivo de encontrar uma oportunidade de trabalho relacionada à capacidade de escrever. “Eu vejo a inserção no mercado de trabalho como algo de extrema importância. O emprego é um estimulante social para as pessoas com autismo e gera a possibilidade de conhecer outros mundos e criar novos repertórios.”
Mesmo assim, Moura admite receio do que vai encontrar no mundo organizacional. A insegurança é resultado do medo e da repulsa de o enquadrarem em alguma definição pré-concebida, simplesmente por conta de uma visão estereotipada sobre o transtorno. “Atualmente o meu autismo é quase imperceptível, mas ainda tenho certa dificuldade de conviver com as pessoas e obsessão em entender o motivo ou a lógica em atitudes e sentimentos que muitas vezes não têm uma explicação concreta”, opina.