Inclusão é palavra de ordem e a diversidade deve levar em conta a real inclusão de públicos historicamente discriminados, como negros, pessoas com deficiência e LGBTs.
Construir um país melhor certamente é o sonho da maioria dos brasileiros e isto passa, necessariamente, por uma maior igualdade de oportunidades em todos os campos, incluindo aí o mundo do trabalho.
Para discutir este assunto, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) realizou na quarta-feira, dia 18 de setembro, um seminário com especialistas e defensores de causas de pessoas com deficiência, negros e LGBTs, públicos historicamente discriminados em ambientes organizacionais.
E os números apenas confirmam essa discriminação, a despeito de haver, hoje, políticas afirmativas para a inclusão desses públicos no mercado. Pesquisa Nacional da Saúde, por exemplo, aponta a existência de 12,4 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, ou 6,2% da população. Se cumprida a chamada Lei de Cotas, que obriga empresas, a partir de 100 funcionários, a contratar PcDs, somente em São Paulo, seriam geradas cerca de 360 mil vagas, mas apenas 100 mil delas estão preenchidas.
Para corrigir parte dessa distorção, foi lançado, pelo Governo do Estado, o programa “Meu Emprego – Trabalho Inclusivo”, oferecendo uma melhor qualificação para as pessoas com deficiência disputar uma oportunidade de trabalho. Porém, a secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Célia Leão, faz um alerta no seminário. “A principal barreira para a contratação de PcDs não é a da acessibilidade e sim a atitudinal. É preciso parar de olhar para a deficiência e focar no potencial desses profissionais”, diz.
Para ela, que sofreu um acidente há mais de 40 anos e é cadeirante, cabe também uma autorreflexão dos PcDs. “As empresas buscam quem faça a diferença. Então, é preciso estar acima da média.”
Quem também participou do debate foi o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente. Para ele, além de reconhecer que existem diferenças a serem tratadas na área do trabalho, é necessário entender o que fazer com essas diferenças, a partir de conceitos com bom senso, consciência, responsabilidade e justiça.
Justiça essa que está longe de ser observada com os negros. “Somos mais de 50% da população e, quando olhamos para as organizações, temos só 4% das posições de liderança ocupadas por negros.”
Para Vicente, o quadro, infelizmente, mostra que não está havendo melhoras e os negros têm tido dificuldades, inclusive, para acessar outras funções mais básicas, como aprendizes e estagiários. “Ainda há um olhar preconceituoso para os negros e as organizações não estão conseguindo reverter esse cenário, a despeito de iniciativas importantes de um conjunto razoável de empresas discutindo a diversidade”, explica.
Para Vicente, a correção desta rota passa por uma mudança de comportamento, que envolve disposição, interesse e comprometimento em mudar esta situação. “Hoje, precisamos pensar em como reproduzir uma diversidade criativa, que traga desenvolvimento para o país e riqueza para as nações. A empresa é pedra, areia, cal e cimento. A transformação passa pela cabeça das pessoas, que precisam compreender que, sem o outro, não sou ninguém e o trabalho é extremamente coletivo.”
Para João Silvério Trevisan, escritor que aborda temáticas ligadas ao grupo de LGBTs, a sociedade está mais aberta à aceitação das diferenças. Prova disso é que, neste ano, será realizado o 16° Fórum LGBT para discutir a diversidade sexual no ambiente de trabalho. “Vejo avanços, mas, é claro, ainda falta muito para um cenário de maior igualdade”, finaliza.