Ser resistente às pressões do desemprego pode ser uma saída para a sonhada recolocação no mercado de trabalho.
Resiliência é a palavra do momento no mundo corporativo. Ela pode ser definida como capacidade de lidar com as adversidades do meio. Ou seja, é mais ou menos como diz aquela velha canção, “reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
Segundo a psicóloga Aline Travaglia, ser resiliente é próprio do ser humano. Alguns têm mais e outros menos esta capacidade de resistir às adversidades. No entanto, é possível aprender a lidar com frustrações na vida adulta. “Existem maneiras de criar ânimo para continuar a batalha mesmo enfrentando situações desesperadoras, como este alto índice de desemprego”, afirma.
Apesar dele ser um papel importante para sobreviver aos desafios destes tempos bicudos e do mercado de trabalho cada vez mais concorrido e exigente, este comportamento também tem seu lado ruim. Adaptar-se a todas as situações desconfortáveis em busca da sobrevivência pode fazer da pessoa um ser exageradamente conformado. “Ele vai sempre buscar saídas através de seu esforço pessoal. Com isso, não vai entender de forma crítica o que está por trás desta crise. Um pouco de inconformismo é interessante para que se possa cobrar dos verdadeiros responsáveis pelo desemprego, por exemplo”, afirma a psicóloga.
Autocrítica
Para Aline, uma autocrítica ajuda muito. “A pessoa precisa fazer uma avaliação se suas competências atendem às exigências do mercado ou precisa se capacitar por meio de cursos”, diz, lembrando que resiliência demais também pode criar pessoas excessivamente tolerantes com a adversidade. E que é necessário se organizar de forma coletiva para não ser apenas cobrado, mas também, em situações-limite, exigir melhorias de forma geral. “O seguro-desemprego foi uma conquista recente de todos os trabalhadores”, exemplifica.
Para o eletricista de manutenção predial Euzébio Antônio Nascimento, de 46 anos, a capacidade de se ajustar às situações contrárias possibilitou sua volta ao mercado. Ele perdeu seu emprego há quase 12 meses, depois de quatro anos trabalhando com carteira assinada e um bom salário. “Confesso que fiquei abalado, mas entendi a posição da empresa, que teve de reduzir os postos de trabalho por causa da crise. É claro que preferia estar entre os que ficaram”, conta.
Remuneração menor
No início, fazia alguns bicos e cursos de NRs na sua área, mas depois de 10 meses sem conseguir algo efetivo passou a ficar preocupado. “Comecei a entregar currículos em agências de emprego e amigos, mas sem desespero porque acredito em minhas competências”, garante. Depois de cerca de 2.500 currículos enviados e aproximadamente 30 entrevistas, ele conseguiu sua recolocação, mas com um salário menor do que ganhava quatro anos atrás. Agora, paralelamente ao emprego, faz alguns trabalhos esporádicos para compor a renda.
Nascimento diz que sempre cultivou relacionamentos e procura ampliar seus contatos por meio das redes sociais. “Sempre é possível acumular conhecimento e sabedoria. Qualquer pessoa tem muito a nos ensinar, independentemente de sua posição ou formação”, defende, mas por via das dúvidas está fazendo um curso de Administração de Empresa. “É uma área que vai ajudar a me desenvolver na carreira”, acredita.