O jornal O Amarelinho e a organização social Cruzando Histórias firmaram uma parceria, por meio da qual abrem espaço para mulheres contarem, por elas mesmas, trajetória relacionada ao mundo do trabalho.
A história abaixo é de Andréa Teixeira dos Santos, 53 anos, de São Paulo/SP.
“Por dia, eu mando em média 20 currículos. No período de um ano e meio, tempo que estou desempregada, fui chamada para apenas 10 entrevistas. Até o momento, nenhuma com sucesso. De verdade, já não sei qual é o critério que me desclassifica para as vagas. Questiono se é a minha idade, acima dos 50, aparência física, por conta do sobrepeso, ou se estou falhando ao falar de mim nas entrevistas. A verdade é que já perdi um bocado de tempo com essa preocupação, o que não resolve o problema, além de sentir a minha autoestima abalada. Decidi, então, que, a partir de agora, vou confiar na minha jornada profissional. É por isso que estou aqui para contar um pouco da minha história.
Sou assistente social, mediadora de conflitos, e coordenadora de projetos sociais. Passei oito anos liderando projetos, no meu último emprego. Antes disso, já atuava na área, ao lado do meu ex-marido. Na década de 1980, ele fundou uma academia de capoeira na Brasilândia. A escola durou cerca de 25 anos e promovia esporte e cultura para crianças e adolescentes carentes. Trabalhei muitos anos na administração e comunicação desse projeto, até que saí para viver o sonho de ter um diploma superior. Matriculei-me na graduação de História e passei dois anos trabalhando como professora na modalidade EJA, ou seja, educandos jovens e adultos que não puderam concluir seus estudos.
A trajetória interrompida
Minha trajetória de universitária e meu trabalho de professora foram interrompidos, em 2002, com o falecimento precoce do meu marido. Ali, me vi sozinha, mãe de três filhos, sendo dois pré-adolescentes e uma criança. Além dos meus, outras 200 crianças ficariam órfãs caso o projeto que ele construiu e cuidou com tanto carinho acabasse. Não tive dúvidas: tranquei a faculdade e assumi as rédeas da academia. Passei dez anos cuidando do projeto que ele deixou. Foram tempos difíceis, mas também de muitos aprendizados!
Com meus filhos já crescidos, no ano de 2012, decidi que era hora de deixá-los à frente do legado do pai e retomei o sonho de voltar a estudar. Àquela altura, depois de 10 anos coordenando projetos sociais, o curso de História já não fazia sentido, então me matriculei na graduação de Assistência Social. Enquanto estudava, também trabalhei como conselheira tutelar, auxiliando famílias e crianças, além de fazer trabalhos como atendente de telemarketing e orientadora socioeducativa numa associação de abrigos para pessoas em situação de rua. Eu nunca medi esforços para trabalhar, sustentar minha família e ajudar o maior número de pessoas.
Novos caminhos na trajetória
Ainda na época da faculdade, conheci um projeto de educação, alimentação, esporte e cultura, que estava praticamente fechando suas portas. Aceitei assumir o desafio e entrei no projeto, como estagiária. Em pouco tempo, passamos de 30 para 120 crianças atendidas, o que foi um sucesso! Foram anos bem puxados, mas de grande satisfação com os resultados obtidos.
Com o meu diploma de assistente social em mãos, assumi o cargo de coordenadora desse mesmo projeto. Cresci no trabalho e passei a liderar uma equipe de 15 pessoas. Foram oito anos enfrentando todos os tipos de desafios, correndo atrás de recursos e amparando muitas famílias! Posso dizer que me doei de corpo e alma! Sentir-me útil é a minha maior fonte de felicidade!
Situação durante a pandemia
Infelizmente, o projeto teve uma parada durante o período da pandemia de Covid-19 e, pouco depois de os serviços serem retomados, fui dispensada pela nova gestão. Essa foi uma realidade dura de encarar, mas, passado um tempinho, já me sinto pronta para uma recolocação.
Se eu pudesse levar uma mensagem para recrutadores, gostaria que eles soubessem que eu sou igual madeira de jacarandá: eu vergo, mas não quebro. Também quero dizer que sou uma profissional muito leal, resiliente e cheia de energia para trabalhar. Estou em busca de uma oportunidade na área de projetos sociais, aberta a todas as instituições e sei que minha maturidade e experiência são diferenciais para vagas do terceiro setor. Peço por uma oportunidade e estou ansiosa para oferecer meu trabalho.”