Números do IBGE mostram que empresas ainda não estão conseguindo reverter quadro de desigualdade racial.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou números que reforçam como a população negra ainda sofre preconceito no mercado de trabalho.
Os pretos ou pardos representam 64,2% da população desocupada e 66,1% da população subutilizada. Enquanto 34,6% dos trabalhadores brancos estão em ocupações informais, entre os pretos ou pardos esse percentual sobe para 47,3%.
O rendimento médio mensal das pessoas brancas ocupadas (R$ 2.796) é 73,9% superior ao da população negra (R$ 1.608) e os brancos com nível superior completo ganham 45% a mais por hora do que os negros com o mesmo nível de instrução. Além disso, os pretos ou pardos representam 75,2% do grupo formado pelos 10% da população com menores rendimentos e apenas 27,7% dos 10% da população com as maiores remunerações.
Para José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, apesar de se discutir muito a diversidade, o quadro mostra que as organizações não estão conseguindo reverter esse cenário de desigualdade e são necessários disposição, interesse e comprometimento para mudar esta situação. “A transformação passa pela cabeça das pessoas”, diz.
Na pele
No início de sua carreira, Luís Santana sentiu na pele o que é sofrer preconceito por causa da cor. Ele atuava como técnico de suporte e estava fazendo testes numa impressora fiscal. “A impressora estava numa mesa conectada por um cabo num computador em outra mesa. Pelo fato de não colocar a impressora ao lado do computador, o filho do dono de um pequeno mercado disse que eu estava fazendo serviço de preto”, diz.
O fato marcante serviu de motivação para Santana continuar fazendo sempre o melhor. A origem humilde também não foi empecilho para seguir adiante. Se formou em Análise de Sistemas, fez pós-graduação em Desenvolvimento Web e hoje é desenvolvedor líder na ROIT, empresa de contabilidade e tecnologia localizada em Curitiba.
Para ele, os dados do IBGE reforçam o fato de historicamente os negros não terem as mesmas oportunidades de ascensão que os brancos. Mas ele acredita que algumas empresas, como a própria ROIT, tem respeitado e valorizado mais as diferenças. “Porém, o preconceito ainda é uma realidade. Muitas pessoas nos olham com dó e pena, outras com desprezo e preconceito, e esses sentimentos de menosprezo não são bons. É preciso um outro olhar pra mudar todo esse contexto”, finaliza.