Com mais de 12,6 milhões de trabalhadores buscando uma oportunidade de trabalho, mercado pede uma postura diferenciada de profissionais que querem deixar a indesejável fila de desempregados.
Segunda-feira, 7 de outubro. Logo nas primeiras horas da manhã, chamava atenção uma fila imensa que se formava na altura do número 700 da Estrada Turística do Jaraguá. Motivo: um supermercado iniciava, naquele dia, processo seletivo para a contratação de 250 pessoas, por conta de uma unidade a ser aberta no mês de novembro.
A cena, que ainda se repetiria por mais dois dias, é uma mostra fiel de uma das maiores crises econômicas vividas no Brasil, que resulta em mais de 12,6 milhões de desempregados, isso sem contar a força de trabalhado subutilizada, composta por 27,8 milhões de pessoas que trabalham menos horas do que gostariam, e outros 4,7 milhões de desalentados, os quais, diante da adversidade, simplesmente desistiram de procurar emprego.
Voltando à fila, ela não discrimina faixa etária e inclui representantes de diversas idades. Caso de Silvia Marta Alves Santiago, 58 anos. Moradora do Jardim Jaraguá, ela chegou bem cedo, às 4h10 da madrugada, mesmo sabendo que o atendimento seria iniciado apenas às 9h. “Queria ser atendida rapidamente”, alega.
Silvia está há um ano e oito meses buscando uma colocação no mercado de trabalho. Nunca havia ficado tanto tempo parada e entende que um dos motivos é a idade. “Muitas empresas não falam, mas a gente percebe que a idade atrapalha. Há muito preconceito com os mais velhos, mesmo quando temos grande experiência.”
A última função exercida por Silvia foi como ajudante de produção, mas ela admite, neste momento, não escolher trabalho. “Trouxe meu currículo porque fiquei sabendo que tem vagas para diversas áreas”, diz.
Na outra ponta, há também muitos jovens à procura de uma chance para demonstrar o seu potencial. Exemplo é Cleyton de Oliveira. Aos 30 anos, ele está há dois meses sem trabalhar. Parece pouco tempo, mas não para quem é casado, mora de aluguel e tem uma filha de cinco anos para cuidar.
Atualmente, a única renda da casa vem da esposa, que atua como auxiliar de produção. Para reforçar este orçamento familiar, Oliveira reserva um tempo durante os primeiros dias da semana para procurar emprego. Ainda não foi chamado para entrevistas, mas não desanima. “A situação está difícil, mas não podemos perder a esperança.”
Não perder a esperança. Este é um dos pontos importantes para quem quer estar empregado em tempos de crise. Mas isso só não basta. Uma conversa rápida com os trabalhadores que estavam na fila foi suficiente para perceber que a frase “atirar para todos os lados” ganha força quando se está na situação de desemprego. “Estou aceitando qualquer coisa” é uma resposta comum meio desta multidão de pessoas.
Foco
Mas esse não é um bom caminho, segundo a especialista Andrea Deis. Segundo ela, é preciso ter um objetivo bem definido e buscar um trabalho dentro da sua área de vocação. “Profissionais que pensam assim têm mais chances de serem empregados e, quando estão no mercado, apresentam melhores resultados”, opina.
Para Andrea, é preciso perceber que vivemos uma ruptura do modelo convencional de empregabilidade. Muitas profissões estão perdendo espaço, outras têm surgido e os trabalhadores precisam se adaptar a este novo cenário, buscando capacitações e desenvolvimento de competências importantes para as organizações. “É preciso não se colocar como vítima e correr atrás do que o mercado exige.”
Exigências que vão além da capacidade técnica. De acordo com a especialista, o mundo corporativo carece de profissionais íntegros, autoconfiantes, que estabeleçam bons relacionamentos e se reinventem todos os dias. “Em situações adversas, como a de desemprego, não busque culpados ou justificativas, aja com sabedoria, coragem e de acordo com seus princípios, propósitos e talentos para alcançar bons resultados”, orienta Andrea.
Boas dicas para quem, definitivamente, não quer mais enfrentar a indesejável fila do desemprego.