Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Ec0nômica Aplicada (IPEA) mostra que cerca de 3,3 milhões de pessoas procuram emprego há mais dois anos.
Depois de aproximadamente cinco meses desempregado, Carlos Eduardo Ventura Neves admite que está quase desistindo de procurar uma vaga. Situação pior é a de Daniel Benvindo Silva. Ele está parado há um ano e cinco meses e faz alguns trabalhos como freelancer, mas nada de carteira assinada. “Um amigo ligou de um escritório de engenharia. Ele gostou do meu currículo, mas quando marcaram para conversarmos, na mesma semana a vaga foi cortada”, lamenta.
No entanto, Silva diz que nunca vai desistir de procurar um emprego. “Amigos mais jovens me perguntam onde consigo estrutura emocional para suportar esta situação. Digo que vamos nos preparando ao longo da vida. O sofrimento nos faz resilientes. A família tem um fator muito importante neste processo”, afirma.
Nilson Damasceno Fernandes está desempregado há três anos. Como alternativa, faz corridas de táxi por meio de um aplicativo, onde a renda não é suficiente para os projetos de vida dele. “Continuo no serviço mais como uma terapia ocupacional, pois estou tendo mais prejuízos que lucros financeiros”, confessa.
No entanto, ele vê a atual situação com positividade. “Consegui uma bolsa de estudo por meio do ProUni que encaixou certinho neste período. Agora estou procurando emprego na área que estudo, a de Tecnologia, mas aceitando trabalhar em uma empresa promissora em outros segmentos.”
Quem está desanimada é Maisa Nunes Reis. “Infelizmente eu estou desempregada e desalentada. Já nem me esforço em procurar, meio que ‘abortei’ a palavra emprego da minha vida. Ainda mais agora que, aos 40 anos, estou vivendo inteiramente na dependência do meu marido. Quero empreender, mas não tenho ideia do que fazer, porque sei que preciso fazer essa escolha de forma minuciosa, pois seria com recursos de terceiros”, confessa.
Nilson e Maisa estão entre os 3,3 milhões de pessoas que estão à procura de emprego há mais de dois anos e Carlos e Daniel se esforçam para não fazer parte desta estatística, divulgada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no dia 18 de junho. O estudo Mercado de Trabalho usa dados da PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografaia e Estatística (IBGE).
Além do aumento no tempo de permanência no desemprego, o estudo mostra que os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho também vêm impactando a renda domiciliar. Em que pese algum ganho real, os dados da PNAD mostram que, no primeiro trimestre de 2019, 22,7% dos domicílios brasileiros não possuíam renda proveniente do trabalho e que as famílias de renda mais baixa foram as que apresentaram menores ganhos salariais. A análise mostra, ainda, que a renda dos domicílios mais ricos é 30 vezes maior que a dos mais pobres.
Para evitar o desânimo que é natural neste caso, é importante tomar algumas medidas que vão além da busca pela oportunidade de trabalho, segundo a consultora associada da Etalent e sócia-diretora da Eleve Consulting, Shana Wajntraub. Mesmo na situação de desemprego, que pode resultar em uma fragilidade financeira, ela acredita ser possível desenvolver algumas habilidades importantes para uma recolocação. “Quem está desempregado deve dividir o tempo entre procurar oportunidades e se aprimorar. É importante, por exemplo, participar de palestras, feiras, cursos. Atualmente, existem muitas possibilidades gratuitas e de qualidade em ambiente on-line. Além disso, ativar a rede de relacionamentos é fundamental”, esclarece.
A coach de carreira Debora Toschi concorda com Shana, acrescentando que, para diminuir o tempo de procura por uma vaga, algumas características devem compor o perfil do profissional, entre elas a persistência, disciplina, paciência, atitude e coragem para continuar firme e acreditar que para tudo há uma solução. “Esta é uma fase desafiadora, mas que pode ser marcada por um caminho de superação, de busca por sonhos e ações que levem ao objetivo almejado”, ensina.