Para a maioria desses alunos, a qualificação é a grande chance de voltar ao mercado de trabalho com uma nova profissão.
Silvano de Jesus Souza voltou a sonhar aos 28 anos. Morador nos baixos do viaduto Antártica, na zona oeste de São Paulo, está fazendo o curso gratuito de marcenaria ministrado pelo Instituto Leo Educa em parceria com a mobilização social Entrega por SP e a Duratex.
O curso tem duração de 55 dias e, com um mês de aulas, Souza já conseguiu trabalho de meio período numa oficina de marcenaria, onde aperfeiçoa seu aprendizado nesta nova formação. Afinal, desde quando chegou de Bom Jesus da Lapa, no interior da Bahia, ele já fez de tudo um pouco. Trabalhou como garçom, barman, ajudante de cozinha e até em fundação para construção, um dos poucos empregos com carteira assinada.
Como a maioria dos migrantes, chegou com 16 anos cheio de gás e esperança de poder proporcionar uma vida melhor para seus pais, que ficaram na fazenda Pau D’Arco, onde vivem da agricultura. O primeiro destino foi Campinas, a 100 quilômetros da Capital. Depois, veio para São Paulo morar com um irmão, que se casou e a situação começou a ficar insustentável. “Embora ele tivesse insistido para que eu continuasse a morar com ele, resolvi sair, mesmo tendo perdido o emprego na época”, conta.
A partir de então, a vida de Souza degringolou. Sem dinheiro para alugar um quarto, começou a vagar pelas ruas até encontrar abrigo na comunidade sob um viaduto, onde mora há cerca de três anos. Neste período, até conseguiu alguns bicos, mas quando os patrões descobrem que é morador de rua, ele é dispensado sem nenhuma explicação.
Seu último emprego foi numa pizzaria e uma cliente foi quem falou do curso de marcenaria quando o encontrou na rua. “Aqui, estou me sentindo acolhido, recuperei minha autoestima e estou de novo confiante que posso sair desta situação. Não consigo ficar num emprego, mesmo sendo um bico, porque sou morador de rua e continuo morando debaixo do viaduto porque não consigo um trabalho”, afirma Souza, que cursou até o primeiro ano do ensino médio e quer voltar a estudar quando sua vida se estabilizar.
O baiano tem a companhia de mais nove moradores de rua nesta primeira turma. A Duratex pretende qualificar, no total, 45 pessoas que vivem em situação de rua em comunidades do entorno de sua sede. Segundo Débora Spitzcovsky, da área de sustentabilidade da empresa, a parceria com o Instituto Leo tem como objetivo oferecer a essas pessoas capacitação em marcenaria e uma oportunidade de saírem da situação por meio de seu trabalho.
Nova turma
Aliás, o Instituto Leo vai abrir inscrições para a próxima turma do curso gratuito de marcenaria para o público em geral. Elas deverão ser feitas de 29 de outubro a 9 de novembro pelo e-mail leo.educa@leomadeiras.com.br com o texto “Leo educa” no assunto. Podem se candidatar pessoas com mais de 18 anos e que tenham pelo menos a sexta série do ensino fundamental e renda familiar de até meio salário mínimo por pessoa. As aulas começarão no dia 26 de novembro e serão ministradas de segunda a sexta, das 8h às 12h ou das 14h às 18h, na Rua Bartolomeu Paes, 136, Vila Anastácio.