Ao longo dos anos, as mulheres têm sofrido para conciliar a criação dos filhos e o desenvolvimento de carreira. O motivo não é falta de tempo, habilidade ou competência, mas, sim, ausência de oportunidades por parte de algumas empresas. A contratação de mães, acreditam elas, não vai render de acordo com o esperado. A opinião é da professora universitária, funcionária pública e empreendedora social, Edilaine Daniel.
Sua mãe, diarista, por exemplo, teve sete filhos e ouviu muitos “nãos” do mundo do trabalho. Contudo, nessa época em se falava abertamente que o motivo eram os filhos. Hoje, temos algumas mudanças, porém muitas empresas ainda não atendem às necessidades das mães, e os “nãos” são camuflados, as desculpas são outras. Até mulheres recrutadoras não agem diferente de homens, quando fazem as seguintes perguntas para candidatas: “tem filhos? São pequenos?”. E se a resposta for positiva, há uma mudança na fisionomia dos recrutadores. “Aguarde, faremos contato se for aprovada” é a resposta-padrão.
A discriminação começa ainda na gravidez
Mudanças no corpo durante a gestação, às vezes, impossibilita a realização de determinada tarefa. Mesmo assim, é comum que, nesta situação, as mulheres sejam isoladas, excluídas de uma possível promoção interna. A justificativa é que terão de se afastar.
E o que muda para aquelas que retornam de sua licença-gestante? Apesar da legislação garantir alguns direitos, tais como saírem mais cedo para amamentar e que os pais se ausentem no trabalho uma vez ao ano para acompanhar o filho ao médico, qual criança, principalmente recém-nascida, fica doente somente uma vez por todo este período?
Assim, as organizações continuam excluindo as mães das promoções ou de atividades que trazem maior visibilidade profissional. “Ou seja, as lideranças, em sua maioria, continuam achando que ela não terá capacidade para desenvolver alguma atividade. Isso se estende até o momento em que a profissional pede demissão ou a demitem”, diz Edilaine.
Projetos para a contratação de mães
Pensando em todos esses desafios impostos às mães, por ser mulher, ter duas filhas, sobrinhas e ter tido uma mãe que sofreu muito para criar os filhos, Edilaine iniciou dois projetos de empregabilidade. Eles contam com ações efetivas para a contratação de mães, que fazem a diferença na vida dessas mulheres e, consequentemente, de suas famílias. Eles ocorrem por meio de parcerias com empresas cidadãs, que realmente querem fazer parte dessa transformação social.
O Projeto “Filhos no Currículo, Mulheres que Cuidam”, por exemplo, foi elaborado justamente para inserir mulheres que precisam cuidar de seus filhos e que não podem trabalhar fora. Elas passam por processo seletivo junto a empresas que possuem vagas de home office. “Tivemos duas organizações que aceitaram esse projeto. Estou em busca de novas empresas, são vagas CLT com todos os direitos garantidos. Mesmo trabalhando em casa, existe supervisão, horários estabelecidos, para logar (ligar) o computador, desligar, período de almoço, descanso. Porém estar em casa é um grande diferencial. Afinal, a profissional está próxima a seus filhos, sem precisar se afastar do mundo do trabalho”, destaca a professora.
Entre os públicos que têm sido beneficiados por este projeto estão as mães solo, que criam seus filhos sozinhas. Elas, muitas vezes, não têm uma rede de apoio familiar para ingressar no mercado, ouvindo de recrutadores: “mas não tem ninguém para lhe ajudar. Com quem você vai deixar a criança?”
Há também as mães que são vítimas de violência doméstica, que vivem em abrigos sigilosos. Embora precisem trabalhar, temem pela própria vida quando saem às ruas. “O projeto se torna um porto seguro para essas mães”, afirma Edilaine.
“Contrate uma Mãe”
Lançado recentemente, o projeto “Contrate uma Mãe” busca empresas interessadas na contratação de mães, sem que isto seja um empecilho. “Ao contrário, que elas possam, por meio de seu currículo, dizer que é mãe, sem medo de perder qualquer oportunidade”, diz a empreendedora social.
No momento, o projeto está na etapa de cadastramento de empresas interessadas em apoiar a iniciativa. Até agora, oito já sinalizaram a participação, ofertando 230 vagas nas áreas de Conservação, Limpeza, Telemarketing, Portaria, Construção Civil, Varejo, Comércio etc. “A maioria das posições são operacionais, mas estamos também em busca de vagas administrativas. O que quero é que as empresas contratem mães, para que elas tenham sua independência financeira e ajudem economicamente suas famílias”, diz Edilaine.
Como se inscrever?
Mulheres interessadas em participar dos processos seletivos para esses programas devem entrar em contato, a partir do dia 7 de maio, pelo WhatsApp (11)99549-0815. Também é possível se inscrever nas pelo Facebook, Instagram ou grupo no Facebook.